domingo, 10 de outubro de 2010

Berlim - trecho do livro "Diários de bicicleta" de David Byrne.

 


"Pedalo pelas ciclovias aqui em Berlim e tudo me parece muito civilizado, agradável e evoluído. Nenhum carro estaciona ou anda nas ciclovias, e os ciclistas não zanzam pelas ruas e também não sobem nas calçadas. Existem pequenos semáforos só para os ciclistas e as bicicletas têm até sinal de seta! (Em geral, os ciclistas são liberados alguns segundos antes do resto do trânsito para poderem sair do caminho.) E não há necessidade de dizer que a maioria dos ciclistas aqui para nesses semáforos. Os pedestres também não entram nas ciclovias! Fico até um pouco chocado – tudo funciona tão bem. Por que não pode ser assim onde eu moro?

Aqui, até as bicicletas são práticas. Elas são, geralmente, pretas, com apenas algumas poucas marchas, para-lamas, e muitas vezes um cesto – coisa que nenhum ciclista esportivo jamais sonharia em acoplar à sua mountain bike nos EUA. Na Holanda , eles vão ainda mais longe e instalam carrinhos especiais para levar os filhos ou compras e até para-brisas (!) para proteger as crianças. Mas claro, pedalar pelas ruas de Nova York com seus constantes buracos, lombadas e recapeamentos mal-feitos, é mesmo algo mais próximo de um esporte radical do que andar de bicicleta por aqui, onde, por algum motivo, a maioria das ruas é lisa como um tapete e não tem obstáculos, apesar dos invernos rigorosos. Hmmm. Os maiores problemas por aqui ficam por conta de algumas ruas de paralelepípedos ou trechos de calçamento. Como eles conseguem fazer isso? Ou melhor, como o país mais rico do mundo não consegue fazer isso?
Alguns podem até dizer que ao construir ruas perfeitas, os alemães também eliminaram os obstáculos psicológicos de suas vidas cotidianas. Se as ruas de Nova York são mais insanas e descontroladas (pelo menos em frente ao “Mall Manhattan”), então estas aqui são ruas que tomaram Prozac – civilizadas, embora um pouco menos empolgantes. Mas por que nós nos EUA deveríamos ser forçados a andar por ruas “empolgantes”?"

David Byrne
trecho do livro “Diários de bicicleta”, pag. 59, 60, 61.

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