sexta-feira, 4 de março de 2011

Livro "Diários de bicicleta" do David Byrne.

Trechos interessantes do livro "Diários de bicicleta", do
David Byrne. É um ótimo livro, recomendo a todos a leitura.


1.

Berlim

"Pedalo pelas ciclovias aqui em Berlim e tudo me parece muito
civilizado, agradável e evoluído. Nenhum carro estaciona ou anda nas
ciclovias, e os ciclistas não zanzam pelas ruas e também não sobem nas
calçadas. Existem pequenos semáforos só para os ciclistas e as
bicicletas têm até sinal de seta! (Em geral, os ciclistas são
liberados alguns segundos antes do resto do trânsito para poderem sair
do caminho.) E não há necessidade de dizer que a maioria dos ciclistas
aqui para nesses semáforos. Os pedestres também não entram nas
ciclovias! Fico até um pouco chocado – tudo funciona tão bem. Por que
não pode ser assim onde eu moro?

Aqui, até as bicicletas são práticas. Elas são, geralmente, pretas,
com apenas algumas poucas marchas, para-lamas, e muitas vezes um cesto
– coisa que nenhum ciclista esportivo jamais sonharia em acoplar à sua
mountain bike nos EUA. Na Holanda , eles vão ainda mais longe e
instalam carrinhos especiais para levar os filhos ou compras e até
para-brisas (!) para proteger as crianças. Mas claro, pedalar pelas
ruas de Nova York com seus constantes buracos, lombadas e
recapeamentos mal-feitos, é mesmo algo mais próximo de um esporte
radical do que andar de bicicleta por aqui, onde, por algum motivo, a
maioria das ruas é lisa como um tapete e não tem obstáculos, apesar
dos invernos rigorosos. Hmmm. Os maiores problemas por aqui ficam por
conta de algumas ruas de paralelepípedos ou trechos de calçamento.
Como eles conseguem fazer isso? Ou melhor, como o país mais rico do
mundo não consegue fazer isso?

Alguns podem até dizer que ao construir ruas perfeitas, os alemães
também eliminaram os obstáculos psicológicos de suas vidas cotidianas.
Se as ruas de Nova York são mais insanas e descontroladas (pelo menos
em frente ao “Mall Manhattan”), então estas aqui são ruas que tomaram
Prozac – civilizadas, embora um pouco menos empolgantes. Mas por que
nós nos EUA deveríamos ser forçados a andar por ruas “empolgantes”?"

David Byrne
trecho do livro “Diários de bicicleta”, pag. 59, 60, 61.

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2.

Como os nova-iorquinos andam de bicicleta.

Há mais nova-iorquinos andando de bicicleta do que nunca. E não apenas
entregadores. É significativo que, aparentemente, muitos jovens
modernos não vejam mais o ato de andar de bicicleta como algo
totalmente cafona, o que sem dúvida era o caso quando comecei a
pedalar por aí, no final dos anos 70 e começo dos anos 80. Sinto que
podemos estar nos aproximando do ponto de virada, para invocar um
termo agora clichê. Os nova-iorquinos estão em um estágio em que
podem, se tiverem a chance e a oportunidade, considerar uma bicicleta
como um meio válido de transporte – se não para eles mesmos, então ao
menos irão admitir que seja um meio válido de transporte para outros
nova-iorquinos. Eles podem alguma hora experimentar por si mesmos, e
certamente vão se adaptar. Eles podem até apoiar e encorajar.

[…] Eu pessoalmente sinto que capacetes podem ser um passo provisório
na direção da integração urbana do ciclismo. Embora eles sempre sejam
uma boa idéia, o uso do capacete sugere que andar de bicicleta é
perigoso, o que, hoje, em cidades como Nova York e Londres, geralmente
é mesmo. Mas em outras, como Amsterdã, Copenhague, Berlim, e Reggio
Emilia, na Itália, as ciclovias e rotas são tão seguras que os
ciclistas não sentem a necessidade de se proteger. Os ciclistas nesses
lugares – crianças, jovens criativos, homens de negócios, idosos –
também tendem a pedalar com postura elegante; bem vestidos, e até
sexies. É uma atitude diferente da abordagem de guerra da cidade de
Nova York.

Talvez, para alguns, parte da adrenalina iria embora se o ciclista
urbano se tornasse seguro. Mas esse poderia ser o preço a ser pago se
isso significar que mais pessoas vão começar a usar bicicletas para se
locomover. Essa excitação não é exatamente algo apropriado para idosos
e crianças em idade escolar. Morar em Nova York costumava ser muito
mais perigoso de forma geral, mas isso dificilmente é algo para se ter
saudade. Então, enquanto nós precisamos de um capacete legal e
estiloso disponível imediatamente, em um mundo mais perfeito ele
poderia ser opcional para todos.

David Byrne
trecho do livro “Diários de bicicleta”.

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